Uma ermida a sublinhar um promontório sagrado – uma história que se repete vezes sem conta em Portugal e que evidencia todo o plano de cristianização da península.
A lenda da Ermida da Memória
É sabida a propensão dos cabos do mundo para inventarem milagres que lhes cubram o seu carácter sagrado e pagão com verniz cristão. O Cabo Espichel não é exceção, e, mais uma vez, aqui também há relatos de aparições de uma imagem da Virgem, tal como em muitos outros, sendo provavelmente o mais conhecido o da Nazaré.
Conta-se que pescadores vindos das praias da Caparica – mais tarde com nova versão adicionando outros de Alcabideche, alargando a influência aos saloios alfacinhas – avistaram uma imagem de Nossa Senhora sentada numa mula, e que esta trepou e a levou até ao cimo da falésia, onde ficou, edificando-se aí este pequeno monumento poucos metros a Oeste do santuário. A pedra trepada passou assim a chamar-se Pedra da Mua, sendo mua, de acordo com a tradição popular, uma corruptela da mula que ajudou Maria na escalada.
Serviu isto como pretexto a que aqui se fizessem círios (as peregrinações da Estremadura) vindos da margem norte e da margem sul do Tejo, embora seja praticamente certo que estes rituais já fossem antes feitos, com roupagens menos católicas.
Monumento da Ermida da Memória
O monumento da Ermida da Memória, esse, data do século XV e é de uma elegância leve e equilibrada, numa arquitetura que popularmente associamos à árabe, de planta quadrada e cúpula em curva e contracurva, bem recortada no fundo atlântico que se põe a ocidente. O interior contém azulejos com a história e todo o folclore em redor da Ermida.
Deslumbrante é tudo o que se passa em seu redor: a arrida que se afunda a pique no Atlântico, o mar sem fim a que a vista não consegue escapar, e todo o Santuário do Cabo Espichel harmoniosamente esculpido numa falésia de vento e pedra.
Fonte: Portugal num Mapa
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